sexta-feira, 16 de setembro de 2011

2ª CHAMADA para o III Fórum de Gênero, DH e Cidadania !

Prazo para envio de resumos prorrogado até 16/10/11.

O evento acontecerá junto ao IV Seminário Nacional de Ciência Política - Teria e Metodologia em Deb
ate, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, nos dias 8, 9 e 10 de novembro de 2011, em PoA, RS.


Ementa: O Fórum de Gênero, Direitos Humanos e Cidadania busca incitar o debate sobre s relações de gênero e as desigualdades sociais no marco da cidadania feminina e dos direitos humanos das mulheres, em especial na América Latina. A noção de cidadania, como conceito polissêmico, abriga interpretações consoantes a distintos contextos históricos, políticos e sociais, enquanto a de direitos humanos abrange os direitos fundamentais de cidadãos e cidadãs, abarcando os civis, políticos, sociais, econômicos e culturais em suas interdependências. O Fórum privilegia a apresentação de trabalhos sobre a construção da equidade de gênero nas perspectivas feminista de direitos humanos, ampliação da cidadania e justiça social, tendo em vista as suas intersecções com as questões geracionais, étnico-raciais, geográficas ou de classe.


Propostas de trabalho para apresentação podem ser enviadas ao email forumgeneroufrgs@gmail.com até o dia 16 de outubro de 2011. Os trabalhos aprovados serão publicados em Anais.


Cronograma:

Prazo para envio de resumos: de 10/09/11 à 16/10/11

Abertura das inscrições para ouvintes: 10/10/11

Pagamento da taxa de inscrições dos/as apresentadores/as: de 20/10/11 à 04/11/11.

Prazo para envio do trabalho completo: 01/11/11

Evento: 8, 9 e 10 de novembro de 2011, Campus do Vale, UFRGS, Porto Alegre, RS.


Pedimos, gentilmente, que repassem este convite à comunidade acadêmica (graduandas/os e pós-graduandas/os, bem como professoras/es) e entidades ligadas ao tema mulher e gênero.


Para maiores informações, acessem o site: http://www6.ufrgs.br/sncp


Contamos com a sua participação!


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Convite para a 5ª Conferência de Políticas para Mulheres de Porto Alegre

O Niem/UFRGS, a partir de sua participação no Forum Municipal da Mulher/Porto Alegre, convida a todos e todas a participarem da 5ª Conferência de Políticas Públicas para as Mulheres de Porto Alegre a ser realizada nos dias 19 e 20 de agosto na Câmara Municipal.

A atividade tem por objetivo promover a reflexão sobre a intersetorialidade como estratégia na garantia dos direitos da mulher. Especificamente pretende-se debater e propor políticas públicas voltadas à igualdade entre homens e mulheres e ao exercício da cidadania, bem como ao fortalecimento da autonomia econômica, cultural e política das mulheres no município de Porto Alegre.

No evento serão realizadas a avaliação e o aprimoramento das ações e políticas definidas na 4ª CMPM e no II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Esta etapa antecede a estadual que ocorrerá nos dias 21, 22 e 23 de outubro na capital gaúcha, e a nacional de 12 a 14 de dezembro em Brasília.

Realização: Forum Municipal da Mulher; Coordenação Municipal da Mulher; e, Câmara Municipal de Porto Alegre. A inscrição é gratuita e voltada aos/as cidadãos/ãs de Porto Alegre.

Mais informações no fone: 51 – 3289.1689, E-mail: angelack@gp.prefpoa.com.br

Este processo é fundamental para refletirmos, debatermos e avaliarmos, na perspectiva das mulheres, um modelo de desenvolvimento que contemple os compromissos com as demandas das mulheres brasileiras e pelo fim das iniqüidades. PARTICIPE!!!

Abaixo o resumo da programação, para ver completa acesse:
http://forummunicipaldamulherpoa.blogspot.com





quinta-feira, 4 de agosto de 2011

5ª Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres

Foto: Ricardo Giusti/PMPA

Lançamento da 5ª Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres

Dias 19 e 20 de agosto, será realizada a 5ª Conferência de Políticas para as Mulheres. O tema desta edição, "Autonomia e enfrentamento à violência", foi anunciado
nesta segunda-feira, 1º de agosto, pelo prefeito José Fortunati. O debate é promovido pelo Fórum Municipal da Mulher, em parceria com a prefeitura, por meio da Coordenação Municipal da Mulher.Lançamento da 5ª Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres. Fotos

Fortunati destacou que o movimento das mulheres tem ajudado o país a repensar os parâmetros de cidadania. "O papel da mulher na sociedade não pode ser subestimado. Que essa nova conferência reforce o potencial de mobilização na deliberação sobre as políticas públicas em Porto Alegre, promovendo a transversalidade plena nos órgãos da prefeitura, para que a transformação realmente aconteça", defendeu o prefeito. Vídeo

Para a titular da Coordenação Municipal da Mulher, Ângela Cristina Kravczyk, o enfrentamento da violência doméstica e dos preconceitos contra a mulher passa diretamente pela conquista da autonomia financeira. "Para romper o cilco da violência, a mulher precisa conquistar ascensão profissional. E a prefeitura tem dado importante contribuição com os projetos de geração de renda por meio da Smic", disse.

A coordenadora do Fórum Municipal das Mulheres, Télia Negrão, destacou a relevância de inserir o debate na agenda da cidade. "O município coloca essa discussão em primeiro plano na agenda pública da cidade. Esse processo de transformação busca dar condições para a mulher desfrutar da sua plena cidadania", ponderou.

O evento será realizado na Câmara Municipal. Os debates serão focados nas áreas Enfrentamento à Violência contra as Mulheres; Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos; Participação Política e Empoderamento, Autonomia Econômica e Financeira; e Cidadania, Comunicação e Garantia de Direitos.
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quarta-feira, 27 de julho de 2011

5º Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres

De 12 a 14 de dezembro de 2011 ocorrerá a 3ª Conferencia Nacional de Políticas para as Mulheres, em Brasília, em torno da qual há uma grande expectativa de que reafirme os compromissos com as demandas das mulheres brasileiras pelo fim das inequidades. A conferencia nacional é precedida de conferencias municipais e estaduais. Em Porto Alegre quem convoca a conferencia é a Coordenação Municipal da Mulher e o Forum Municipal da Mulher, por Diário Oficial. A data já definida é 19 de agosto (abertura) e 20 de agosto plenárias e grupos de trabalho.

A 5ª Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres tem como objetivo discutir e propor políticas públicas voltadas à construção da igualdade, tendo como perspectiva o fortalecimento da autonomia econômica, cultural e política das mulheres, e para o exercício da cidadania das mulheres no município de Porto Alegre. Segundo o regimento, todas as mulheres de Porto Alegre podem participar e todas as participantes estarão aptas para concorrerem à delegadas na etapa estadual. Como temário serão debatidos:

-Análise da realidade nacional social, econômica, política, cultural e dos desafios para a construção da igualdade de gênero;

-Avaliação e aprimoramento das ações e políticas definidas na IV CMPM, das ações e políticas do município, em direção a avaliação das ações que integram o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e definições de prioridades.

A 5ª CMPM deve ter como perspectiva a discussão do modelo de desenvolvimento na ótica das mulheres, levando em consideração a questão local e todas as discussões do temário e os documentos deverão obrigatoriamente incorporar as dimensões de classe, gênero, étnico racial, geracional e da livre orientação e liberdade sexual da sociedade brasileira.

A conferencia deverá ainda aprovar uma plataforma de políticas públicas para as mulheres como base para a elaboração e ou fortalecimento de seu plano municipal e na perspectiva da criação e fortalecimento dos organismos de políticas para as mulheres.


5ª Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres.

Reuniões preparatórias do Fórum Municipal da Mulher, todas as segundas feiras às 17:30

Local: Sede do Fórum Edifício José Montaury, 2º Andar

Informações: 32215298 (Coletivo Feminino Plural, coordenação do Fórum)

Para mais informações acesse: http://forummunicipaldamulherpoa.blogspot.com/

terça-feira, 19 de julho de 2011

Que o “in” nos mova

Texto de Telia Negrão, Secretaria Executiva da Rede Feminista de Saúde
Coletivo Feminino Plural
Av. Salgado Filho, 28, cj 601 - POA/RS - Brasil
Fones 55 51 32124998 e 81003878
Julho de 2011.

Fazendo coro à mais querida feminista gaúcha, Enid Backes e homenageando a sua sabedoria de 80 anos muito vivos, quero colaborar com a sua fixação no prefixo “in” como aquele que caracteriza a postura de nós mulheres (e até alguns homens) que não aceitam os padrões de desigualdade da sociedade atual, sejam eles de classe, de gênero, de raça, de sexualidade ou de idade. Coloco-me como uma indignada, insatisfeita e indisposta a continuar parada no ar enquanto assisto às mortes, ao cárcere privado e vidas perdidas, à insegurança das mulheres e das meninas, e a quase impunidade que causa “in” negativo, a indiferença da sociedade.

Me escreve por email outra das mais queridas feministas, a baiana Lícia Peres, que se trai pelo título da mensagem: “barbaridade”. Quem vive no Rio Grande sabe o que significa quando se usa este termo por aqui, é o mesmo que “o fim da picada” em outros lugares ou no linguajar culto “inaceitável”, “desumano”. Me fala Lícia sobre o cárcere privado a que foi submetida uma mulher dos 8 aos 28 anos, por um homem de 75 aqui no estado. Menina que foi vendida ao senhor de 55 em troca de alguma coisa, que só não foi um celular e uma vaca, como ocorreu há cerca de seis anos, porque não havia celular na época. Mas foi por bem pouquinho. A família se livrou da menina de 8 e o homem pode usufruir da sua infância, adolescência, juventude, anos que só receberam este nome por uma formalidade, porque vida sem liberdade é o mesmo que morte. Morte de gente viva, morte na vida, vida na morte.

Diz a história contada pelos jornais que há algum tempo, ao saber de há muito que o pai a mantinha em cárcere, uma filha dele exigiu que ao menos se casasse, afinal que imoralidade é esta de viver com alguém com quem não se casou? Ou seja, “estupra, mas não mata” como diria o indecente Maluf há alguns anos atrás, uma vez mais o in em nossa vida, mas o in do mal. Não estrou preocupada aqui com o binarismo, com a discussão filosófica do bem e do mal, estou enxergando que vivemos numa sociedade que faz de conta que está tudo bem, porque, pergunto, haverá modo de devolver vinte anos de vida à jovem que viveu trancada numa casa, sob muros altos e da qual só saiu para assinar papel no cartório que em definitivo passou sua posse ao homem que a violou desde os 8 anos de idade?

A entrada deste cartório na história me faz dialogar com outra cientista política e sábia, a terceira da minha lista, Carole Pateman, que ao escrever “O Contrato Sexual” identifica a maneira de tornar propriedade aquilo que é posse, e colocar no contrato social que funda a sociedade moderna um anexo (oculto), aquele que vem com os vírus da internet. Você clica nele achando que é do bem e manda de volta a chave para entrar nos seus dados bancários, na sua vida privada. Aliás, isto está na moda, News of the World (sempre acho que é word) que o diga com suas palavrinhas em inglês. Isso dá certo, dá dinheiro, dá fama, e colabora na missão de mostrar ao mundo (agora entendi o trocadilho) que ninguém está a salvo.

No Brasil sabemos disto já faz tempo, viver e ter saúde física, psíquica, sexual, se você for mulher e pobre ou uma menina, é missão quase impossível. Para lembrar, relaciono a Elisa Samudio, que passou a se relacionar com o jogador famoso e... a cabeleireira que avisou que ia morrer e morreu por omissão do estado no Rio de Janeiro e... a jovem encontrada atirada há um mês numa valeta em São Paulo, pelos que lhe haviam feito um aborto medieval num país de leis medievais quando se trata do corpo e da sexualidade das mulheres e... a jovem que é libertada 20 anos depois...enfim, lembro que de 1998 a 2008, 41.968 mil mulheres foram assassinadas no país, o equivalente a 4,2 vítimas para cada 100 mil habitantes.

Enid querida, teríamos que usar todos os ins para responder a isto, agregar os “ir”, de irracionalidade, os “im”, de impossibilidade de continuarmos lendo todos os dias as notícias que nos indignam mas que não comovem mais. É como morte materna, que antes ainda comovia mas não movia pedra, hoje, sequer comove, pois morrem “apenas 2 mil por ano”.

Você diz também, Enid, que assim como os dinossauros, que tinham três dedos (nunca chequei isto, mas você é uma sábia) sempre há três saídas para as coisas e que a terceira você já esquece, e com todo o direito. Proponho então que nós, que ainda conseguimos citar três ou mais, façamos um exercício com base nos “in”, convertendo-os em desafios à sociedade e aos governantes. O primeiro deles, é que todos nos indignemos com a violação de direitos humanos das mulheres de todas as idades, sociedade, estado, tudo junto incluído. Não é possível que se considerem humanos os direitos com as mulheres excluídas deles. O segundo, é que nos indiquemos para fazer alguma coisa. Sair do lugar, pegar um telefone, ir às ruas, protestar, denunciar, xingar, mandar um artigo para um jornal, sair da indiferença que mata e da omissão que viola. O terceiro, não esquecerei, é de lembrar aos governantes de todos os calibres que são eleitos e pagos para que cumpram seus compromissos assumidos em campanhas e em juramentos quando assumem cargos, funções e mandatos, sob o risco de se tornarem incompatíveis com a ética proposta pelos direitos humanos.

Telia Negrão, jornalista, cientista política, da turma das “ins” Enid e Licia.


Gênero, o público e o privado

O pessoal, o político, o pessoal que estuda a política e o gênero no meio disso tudo aí

Posted: julho 4, 2011 by brunaprovazi in http://brunaprovazi.wordpress.com

Parte Um

A sala de aula de Pós-graduação não difere muito de uma sala de Faculdade, de Ensino Médio e, se você tiver certo grau de abstração e sensibilidade, não difere muito do Jardim de Infância também. Existe o tipo gente boa, que vai se mostrar um pilantra até o final do curso. Existe o tipo mala, que acredita piamente que está participando de um tipo de “bingo nerd”, e que exige um exercício diário de autocontrole pra que você não atire uma carteira em sua cabeça cada vez que ele completa a frase de um(a) professor(a) – mas a gente sabe que é um cara legal. Existem muitos outros tipos que não vêm ao caso; o assunto aqui é outro.

Embora sejamos maioria nas universidades brasileiras, no funil da especialização os meninos ainda são maioria – apesar de não terem lá tanta cara de meninos na Pós-graduação. Tomam a palavra com facilidade, geralmente usando um tom de voz acima do comum, principalmente se seu superior, no caso, for uma professora do sexo feminino. Aprenderam direitinho a ter menos medo de errar, pois o espaço da palavra, do pensamento racional, da política, da ciência, dentre tantos outros, é seu habitat “por direito”.

As meninas, “por natureza” mais caladas, pensam um sem-número de vezes antes de levantar a mão, mesmo que saibam a resposta da questão em questão. Se discordam de alguma ideia exposta – calma lá! – é preciso respirar fundo, sob o risco de ser acusada de histérica, de louca, ou, provavelmente, de estar de TPM. Pra não contar as que saem mais cedo pra buscar/levar @s filh@s na escola, ou saem mais cedo porque @s filh@s ainda não têm idade pra ir pra escola. Mas tudo bem, “as mulheres têm a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo”. Em toda turma tem aquela que dá um sabor mais gostoso ao recreio com bolos, bombons, tortas e salgados caseiros que traz pra vender. Nada mais “natural” pra complementar a renda, já que mulher adora cozinhar nas horas vagas – ou nos intervalos da novela. Seu parceiro (quando o tem) não se arrisca a tal empirismo porque, “naturalmente”, não tem jeito pra coisa e, “naturalmente”, ganha mais que ela no trabalho.

Se estivéssemos em uma mesa de bar, assim poderíamos ter apresentado o seminário sobre “Instituições sociais e as dimensões do público e do privado”. Como estávamos, afinal, em um ambiente acadêmico, deixamos o granadismo um pouco – só um pouco! – de lado e falamos disso aí com outras palavras e algumas citações. Se a dupla era formada por mim e pela Tica Moreno, vocês podem imaginar que não teríamos como falar do tema proposto sem falar de gênero. Por isso mesmo, as professoras foram legais com a gente e nos sugeriram um texto base que não poderia ter sido melhor escolhido: “Gênero, o público e o privado”, da Susan Okin. Nem preciso dizer que viramos fãs.

Parte Dois

O artigo em questão pode ser considerado um divisor de águas na vida de quem pretende estudar, de alguma forma, a política. Susan Okin fala sobre a crítica feminista à teoria política a partir dos conceitos de esfera pública e privada, que têm sido centrais no pensamento político do Ocidente, ao menos desde o século XVII.

O que quer dizer que qualquer pessoa que fosse apresentar esse seminário com uma perspectiva mais igualitária de mundo deveria, necessariamente, falar da questão de gênero também. :)

“Gênero, o público e o privado”

Em linhas gerais (e de forma bem tosca e simplificada por mim), ela diz que, na teoria política em geral, “o privado” é usado para referir-se a esferas da vida social nas quais a interferência na liberdade precisa de uma justificativa especial. Já o “o público” é usado para referir-se a esferas vistas como geralmente mais acessíveis. Na visão desses teóricos políticos, a família, por exemplo, não é política – “em briga de marido em mulher, ninguém mete a colher”.

Já segundo a teoria feminista, a vida doméstica (pessoal) e a vida não-doméstica (pública) não podem ser interpretadas isoladamente, o que significa que grande parte da teoria política liberal precisa de uma revisão profunda. Tem tudo a ver com o slogan da segunda onda do feminismo “o pessoal é político”, que nada mais é que ressignificar e politizar o cotidiano, e entender que existe uma estrutura de poder por trás do que, até então, era visto como “natural”.

Da mesma forma, a família patriarcal é uma estrutura de poder. Não existe uma linha tão demarcada entre a esfera pública e a privada. Elas não podem ser assim separadas, pois não são suficientemente diferentes a ponto de o público (ou o político) poder ser discutido de maneira isolada em relação ao privado (ou pessoal).

Assim como exemplifica Susan, não há como explicar, sem recorrer a fatores não-domésticos, aspectos como: a segregação e a discriminação sexuais correntes na força de trabalho, a escassez de mulheres nas altas rodas da política e a pressuposição estrutural de que trabalhadores e ocupantes de cargos políticos não são responsáveis por cuidar das crianças.

Estudos feministas em várias áreas criaram a categoria “gênero”, fundamental pra gente entender que o “ser homem” e o “ser mulher” na sociedade é uma construção social, assim como os papeis tidos como naturalmente “femininos” e “masculinos”. Impossível falar sobre isso sem lembrar da frase que abre a obra clássica da Simone de Beauvoir:

Ninguém nasce mulher, torna-se mulher. (Simone de Beauvoir, “O Segundo Sexo”)

Ou seja, se o gênero é construído socialmente, a dicotomia público/privado também o é. Da mesma forma, é impossível discutir o público e o privado sem falar da tal da divisão sexual do trabalho. Já falei sobre isso aqui no blog, num artigo chamado “Somos todas feministas”:

Sabe aquele professor de Cinema massa – simpático à causa feminista até – que chama as alunas pra fazerem produção, direção de arte, maquiagem e figurino, e chama os alunos pra fazerem fotografia, iluminação, assistência de direção? Sabe aquele seu amigo videoasta que conhece umas duas ou três fotógrafas boas, mas que acaba chamando sempre um cara que ele ouviu dizer que é bom também pra trampar com ele? Sabe quando sua mãe pede pra você ajudá-la na cozinha ou na casa, por que seu irmão não leva jeito pra isso? Chama divisão sexual do trabalho.

(http://brunaprovazi.wordpress.com/2011/02/26/somos-todas-feministas/)

Pra gente do movimento feminista, esse é um debate central pra entender muito das desigualdades ainda existentes entre homens e mulheres. E às vezes precisamos de outros meios, que não só textuais, pra falar sobre isso. Daí, quando pensamos que os únicos vídeos que tínhamos pra trabalhar esse assunto eram os cláássicos (e óóótemos) “Acorda, Raimundo” e “Gênero, mentiras e videotape”, resolvemos, na SOF, gravar o documentário “Mulheres Invisíveis”. É claro que o vídeo não dá conta de tudo – aliás, o objetivo é produzir mais vídeos! -, mas ele ajuda a fazer esse debate de uma forma mais didática e atual. Segue o endereço do vídeo citado:

http://www.youtube.com/watch?v=P89ihKtenVg&feature=player_embedded

O vídeo mostra que essa situação não mudou muito hoje, não:

As mulheres, apesar de algumas transformações recentes e muito comentadas que ocorreram entre as elites, estão ainda concentradas nas ocupações que são mais mal pagas e desprivilegiadas. Esse fato torna economicamente ´racional´, em muitas famílias, que as mulheres sejam responsáveis pela criação das crianças, o que mantém todo o ciclo de gênero em curso. (Susan Okin)

Outra questão abordada no texto é que:

Desde os princípios do liberalismo, no século XVII, tanto os direitos políticos quanto os direitos pertencentes à concepção moderna liberal de privacidade e do privado têm sido defendidos como direitos dos indivíduos.

#Significa que o que entendemos, por vezes, como “direitos”, foram criados para dizer respeito aos direitos de homens: adultos, chefes de famílias, brancos, heterossexuais e ricos. E a forma de garantir o direito desses homens era garantindo o exercício de seu controle sobre os outros (mulheres, escravos, crianças,…) na esfera privada.

Linguagem sexista

Da mesma forma, não dá pra falar em equidade de gênero usando uma linguagem sexista. A Susan também fala sobre isso no texto.

No passado, os teóricos políticos usavam explicitamente termos masculinos de referência, como ‘ele’ e ‘homem’. Em geral, ficava claro que seus argumentos centrais eram, de fato, sobre chefes de família masculinos. Esses argumentos têm sido lidos, frequentemente, como se eles dissessem respeito a todos nós, mas interpretações feministas dos últimos quinze anos ou mais têm revelado a falsidade desse suposto ‘adicione as mulheres e misture’. (…) Em grande medida, a teoria contemporânea, como o passado (ainda que de maneira menos óbvia), é sobre homens que têm esposas em casa.

Então já pode parar de usar “homem” pra fazer referência à humanidade e ao ser humano, né, gente?

O que queremos as mujeres

Quando abrimos pras intervenções, uma cena rara na sala de aula: todas as mulheres levantaram as mãos. Queriam compartilhar outras referências sobre o assunto, dialogar com os conceitos expostos e ressaltar que é preciso sempre fazer o recorte racial – com o concordamos, aliás. Os homens também quiseram debater, de forma saudável e fraterna. Ao final da apresentação, as colegas vieram nos parabenizar. Quando voltei para o trabalho e abri minha caixa de e-mails, já havia vários deles pedindo as referências citadas, o link para o vídeo da SOF (do qual passamos um trechinho, afinal, foi feito pra isso!) e agradecimentos.

A divisão sexual do trabalho, assim como o feminismo, em todos os seus aspectos, atinge diretamente as mulheres, nos toca, porque fala do nosso cotidiano e mostra o quanto existe de político em todas as dimensões das nossas vidas.

Como bem fala a Susan, um dos nossos desejos é a desnaturalização dos “papeis sociais”:

Nós devemos ter como objetivo uma sociedade em que homens e mulheres dividirão, como iguais, a criação dos filhos e outras tarefas domésticas que o pensamento político hegemônico presumiu explicitamente, e continua implicitamente a presumir, por meio de seu silêncio sobre as questões de gênero e sobre a família, serem ‘naturalmente’ pertencentes à mulher.

Se vocês chegaram até o final deste texto, talvez já seja um bom sinal. :)

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“Gênero, o público e o privado” – Susan Moller Okin

http://www.scielo.br/pdf/ref/v16n2/02.pdf

Texto publicado por Bruna Provazi em http://brunaprovazi.wordpress.com/2011/07/04/o-pessoal-o-politico-o-pessoal-que-estuda-o-politico-e-o-genero-no-meio-disso-tudo-ai/